quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Estudo falso é aceito para publicação em mais de 150 revistas científicas

O americano John Bohannon experimentou enviar seu falso trabalho para mais de 300 publicações, e terminou comprovando a falta de rigor na seleção




Imagine que você escreva um trabalho científico falso, baseado em dados falsos, obtidos a partir de experimentos sem validade científica. Você assina o trabalho com nomes falsos de pesquisadores que não existem, associados a universidades que também não existem, e envia o trabalho para centenas de revistas científicas do tipo “open access” (que disponibilizam seu conteúdo gratuitamente na internet) para publicação. O que você pensa que aconteceria? Acha que seria descoberto?

No caso de John Bohannon, biólogo-jornalista norte-americano que teve a iniciativa de fazer o descrito acima, o desfecho é preocupante, principalmente no tocante à credibilidade científica: Bohannon escreveu um trabalho falso sobre as propriedades anticancerígenas de uma molécula supostamente extraída de um líquen e enviou esse trabalho para 304 revistas científicas de acesso aberto ao redor do mundo. Não só a pesquisa era totalmente fabricada e obviamente incorreta, como o nome do autor principal (Ocorrafoo Cobange) e da sua instituição (Wassee Institute of Medicine) eram fictícios. O que aconteceu, surpreendentemente, foi que mais da metade das revistas procuradas (157) aceitou o trabalho para publicação.

Este acontecimento tem implicações sérias, dentre elas a descoberta de que há muitas revistas que se dizem científicas, mas que de fato não o são. Além disto, a situação mostra que o fato de um estudo ter sido publicado não significa que ele esteja correto ou mesmo que seja verdadeiro. A ciência, portanto, assim como qualquer outra atividade desenvolvida pelo homem, não está livre da desonestidade.

Vale salientar que o sistema de open access não é intrinsecamente falho ou inválido, pela possibilidade de publicação de um falso estudo. Certamente há revistas de acesso livre de ótima qualidade, assim como há revistas pagas que não correspondem ao valor. Até mesmo revistas de renome cometem erros nesse sentido, apesar de se utilizarem de critérios mais rigorosos de seleção. O fato de uma revista ser gratuita não significa que ela não tenha revisão por pares (peer review) e outros filtros de qualidade. Assim, o que deve ser questionado não é a forma de disponibilizar a informação, mas a forma como ela é selecionada e apurada. A qualidade e a confiabilidade da informação são os critérios que devem ser considerados, pois estas características muitas vezes não correspondem ao preço de tal informação.



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