quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A era da inovação... no Brasil?




O tema criatividade tem sido bastante explorado pela mídia em geral, principalmente na internet. O tema é fascinante não só pela amplitude de aplicação e estudo, mas sobretudo pelo que, hoje em dia, ele propicia para pessoas e empresas. Nem é preciso ressaltar o quanto a habilidade criativa constitui num dos mais importantes trunfos do empreendedor.

Apesar deste interesse, uma pergunta é recorrente: Porque o brasileiro, conhecido como um dos povos mais criativos do mundo, é também um dos que menos registram patentes? Vejamos alguns fatos:

O grupo Cisneros, um dos maiores fundos de investimento na América Latina, realizou uma pesquisa e descobriu que Israel, num período de 4 anos, aumentou o número de patentes registradas em 4,6 vezes, contra apenas 2,8 vezes de aumento no Brasil. Indo mais a fundo na pesquisa, descobriu-se que este salto ocorreu pelos seguintes motivos:

1) O governo colocou à disposição um superfundo direcionado apenas a projetos inovadores. O governo facilita o processo de inovação, ao contrário do Brasil que gera entraves por meio da burocracia, corrupção, influências políticas e estruturas confusas e inacessíveis. Os poucos programas brasileiros, capitaneados por entidades como Capes, CNPQ ou BNDES, geralmente orientados para projetos ligados à tecnologia, são pouco divulgados e os requisitos, processos de submissão de trabalhos e prazos dificultam o acesso a estes fundos.

2) Incentivo à entrada de capital estrangeiro. No Brasil até existe abertura para a entrada de investimentos em projetos inovadores, o problema está mesmo com a cultura brasileira. Os investidores não acreditam que o brasileiro possa fazer bons negócios, ou seja, até podem ter idéias criativas, mas não sabem como transformá-las em realidade. São inexperientes em gestão. Faltam técnicas e ferramentas para conduzir novos projetos e administrar novos negócios.

3) Os exemplos de sucesso são amplamente divulgados, de forma a conquistar credibilidade internacional. O Brasil não possui muitos modelos de referência. São poucas as empresas que podem ser citadas como exemplos de empresas que incentivam a inovação, que possuem um departamento dedicado para desenvolver novos projetos, que alocam um verba exclusiva para pesquisa, que cultivam um clima que promova a inovação e a geração de idéias. A seção ‘Você em ação’ da revista Você S.A. traz alguns exemplos de pessoas que fazem a diferença, mas muito mais em função de esforços pessoais do que como resultado de programas estruturados de desenvolvimento de novos projetos.

4) Investimento em educação e pesquisa. 80% das pesquisas no Brasil são feitas por universidades, mesmo assim, trata-se de mera pesquisa burocrática. Os poucos projetos que saem dos laboratórios públicos demoram demais para se tornar produtos comercialmente rentáveis. Muitos projetos são até interessantes, mas sequer possuem viabilidade mercadológica ou econômica. Outros projetos que passam por esta peneira acabam se perdendo na burocracia pública. Há ainda a dificuldade imposta por um enorme fosso cultural que divide o cientista público da iniciativa privada. O cientista ou pesquisador não tem visão de negócios e não possui os fundamentos básicos de gestão para administrar o desenvolvimento comercial de sua criação, o que acaba por levar ótimos produtos ao obscurantismo do potencial mercado consumidor.

5) Ambiente empresarial favorecedor. Outra diferença cultural entre o Brasil e países como Israel ou EUA. As empresas brasileiras querem empreendedores em seu ambiente de trabalho (os chamados intraempreendedores), mas só possuem funcionários. O fracasso aqui ainda é penalizado, ainda que novas correntes trazidas pelo fenômeno da ‘Nova Economia’, há mais de 10 anos, tenham ajudado a mudar um pouco esta mentalidade no sentido de ver o erro como uma etapa natural do processo de aprendizado e criação. As relações entre o meio empresarial e o meio acadêmico ainda são insipientes e tomam forma a partir das Universidades Corporativas, que demonstra um alentador ritmo crescente mais com pouca projeção para trazer resultados palpáveis ainda.


Há, enfim, um longo caminho a percorrer neste sentido, mas o fato do tema se tornar tema estratégico na pauta dos direcionamentos estratégicos da maior parte das grandes empresas no país demonstra que a consciência está mudando, a sementinha da necessidade de desenvolver habilidades criativas está começando a germinar. Falta pouco para caracterizarmos o fim da era do conhecimento e o início da era da Inovação.



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